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UMA TRISTE SEMANA - Carta de João Furtado a Arlete Piedade - Querida Amiga Arlete

 

UMA TRISTE SEMANA - Carta de João Furtado a Arlete Piedade - Querida Amiga Arlete


 
Esta semana não podia começar pior. O domingo ainda iniciava, era quase cinco horas da manha quando recebi a triste e impensável noticia.

 

Amiga, o telefone tocou e atendi, é normal ser chamado à qualquer hora do dia. Tenho amigos e familiares espalhados pelo mundo. As vezes sinto um friozinho na barriga, tal como senti naquele momento, mas tento pensar sempre que no outro lado da linha está alguém a anunciar que ganhei na lotaria. Que a noticia à receber será a melhor do mundo. Mas não é o que aconteceu. Era a pior noticia que poderia desejar. O meu afilhado Belmiro Batalha Lopes, pai da minha também afilhada, Belangela, falecera naquela noite. No telefone estava a cunhada dele e minha prima Elsa Furtado.

Ouvi e calei-me, fiquei mudo, estático e senti o chão o me faltar por baixo dos pés. A única frase que conseguia repetir no momento era «Belmiro morreu». Nem chorar consegui. A minha mulher que estava ao meu lado começou a chorar e a gritar. Eu fiquei mudo e com uma enorme vontade de chorar, gritar, e rebelar contra o fatal destino.

Ainda consegui e com muito gosto perguntar:
-Como…Que aconteceu?
Ela falou-se de ataque cardíaco fulminante. Não resistiu e morreu de imediato. Morte súbita. A minha cabeça parecia que ia arrebentar de tanta dor. Não podia conformar-me com tamanha desgraça. Ele era jovem e com a vida pela frente…

Sabes… Amiga Arlete, conheci o Belmiro há 22 anos. Ele namorava uma estagiária no serviço da minha mulher e que muito provavelmente seria minha parente, o nome dela é Angela Furtado. Tu não sabes…

Cá nesta terra o ter apelido «Furtado» é pertencer a mesma árvore genealógica, não se pode escapar desta sina. O meu pai sempre afirmava aos quatro ventos «FURTADO é uma única família».
Ficamos amigos tão íntimos que… Surgiu-me uma viagem de trabalho e não queria deixar a minha mulher e os filhos em casa sem um acompanhante é que…Querida Arlete, a minha mulher estava grávida, com quase nove meses, ia ter filho na minha ausência.

Pensamos, e, chegamos a conclusão que a Angela Furtado era a pessoa indicada. Ela aceitou e a minha mulher teve a companhia que queria e que desejava. Foi a Angela Furtado que a levou para o hospital e que a deu todo o apoio, que eu ausente, ela precisou ao dar a luz a minha filha mais nova.

Querida Arlete, pediste-me para que eu seja mais sucinto nas minhas longas cartas para ti… Mas como escrever sobre a morte do meu amigo sem lembrar que a nossa amizade foi crescendo sempre e sempre.

A Angela Furtado e o Belmiro Batalha Lopes casaram-se poucos dias depois. Mal regressei e ainda a viver a alegria de ter mais uma bela adicionou a ela a alegria da afilhada anunciada. Eu e a minha mulher fomos padrinhos de casamento e, com a vinda da filha nove meses depois, passei com distinção no papel de compadre do casal.

Passara a ser o padrinho da Belangela. Os anos passaram e inversamente proporcional a nossa amizade se tornou cada fez mais estreita. Tiveram mais duas filhas e elas também habituaram a me chamarem de padrinho, muito embora terem nascido em Portugal e eu continuar em Cabo Verde.

Sim, amiga Arlete, os meus afilhados foram residir em Portugal, mais precisamente em Lisboa a poucos metros das Portas do Benfica. Mas creio eu que o meu nome, alias padrinho, foi pronunciado com muita frequência, para que as outras duas meninas me tratarem como padrinho e eu tratar as três da mesma maneira… Usei e abusei da hospitalidade deles sempre que me desloquei a Lisboa. Afinal eram meus afilhados…

 

 

Leia este tema completo a partir de 04/07/2011

 

 

 

 



04/07/2011
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