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A Babosa - Conto de João Furtado

 

A Babosa - Conto de João Furtado

 

O martírio era enorme. O José dos Ramos não tinha um minuto de sossego. A barriga estava a funcionar ao ritmo do mar. Se era maré-alta a barriga inchava que nem um tambor. Ia se esvaziando ao ritmo do mar até ficar completamente colada a costa.

 

Minutos depois iniciava o sentido inverso. Começava a encher aos poucos no mesmo ritmo do mar. Morava no Oeste, embora a Ilha seja pouco mais que 100 kms quadrados, no meio do Oceano Atlântico, podia-se dizer que Oeste era longe do mar. Sim, tudo é relativo, e nesta relatividade as poucas pessoas que residiam no Oeste afirmavam e acreditavam que estavam longe, muito longe do mar.
 
Efectivamente não tinham o mar no horizonte visual. E a barriga do José dos Ramos trouxe a todos a noção dos movimentos das ondas. Não foi levado ao hospital. Todo o mundo sabia o que acontecera. Os ai ai ai ai do José dos Ramos foram tomados, embora com consternação, como normais pelo que foi provocado.
 
O mês de Maio estava no fim, o próximo mês seria Junho, mês das festas de Santo António do Príncipe. Era preciso preparar tudo para que nada ficasse ao acaso. Era um mês de festas, durante todo o mês de Junho, o Picão era o centro da ilha. O que era para guardar, tinha que ser guardado, sempre podia aparecer algum amigo do alheio.

 

O José dos Ramos fechou tudo em casa. Não deixou nada a vista. Era um homem prudente e não queria perder nada. Entretanto havia um utensílio, muito útil por sinal, enorme que não cabia dentro da casa, era um tacho de cobre. Tacho enorme, tinha dois metros de diâmetro. Estes enormes tachos serviam (e servem) para se fabricar farinha de mandioca.

 

A mandioca é moída e prensada, depois de prensada é cozida. Para se cozer a farinha de mandioca tem que ser num tacho enorme e de cobre. O tacho é colocado sobre três pedras grandes e resistentes. Pega-se o lume e coze-se a farinha, mexendo sempre até que a mesma fique bem torradinha. A farinha de mandioca era como o pão para os da ilha e o tacho era o utensílio indispensável para sua confecção.

 

O tacho não cabia dentro da minúscula casa. Não entrava na porta. Não podia guardar dentro da casa. Não podia ser deixado no quintal, a vista de qualquer larápio. Chamou o empregado e os dois carregaram o tacho e foram esconder debaixo de uma palmeira, longe das estradas e da casa. Ali estava seguro. Ninguém podia adivinhar que o tacho, tranquilamente descansava debaixo da palmeira.
 
Foi e passou um mês. Durante o mês de Junho esteve no Picão e seguiu toda a cerimonia. Desde o cortar da arvore escolhida para o mastro. O arrasto para o centro da festa. As dificuldades surgidas. A arvore que iria servir de mastro tornava-se tão pesada que durante quase todo o mês. milhares de fiéis puxavam a corda em que o mastro estava atado com resultado nulo.

 

Leia este tema completo a partir de 2/7/2012

 



30/06/2012
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