A praia - Conto de Virgínia Teixeira
A praia - Conto de Virgínia Teixeira
Eu sou portuguesa. Nasci no Sul de Portugal, à beira de uma praia de areias douradas pelo Sol, com o som do mar no peito e o cheiro de sal cravado na pele.
Cresci com as marés e olhei para a Lua todas as noites, grande e gorda no céu escuro, enquanto me deixava adormecer com o sibilo calmante das ondas. Dei os meus primeiros passos na areia fina da praia e fui baptizada com água salgada naquele templo da natureza.
Nunca quis riquezas, nem sequer sonhei em sair da minha praia amada e ver o mundo. Não havia nada no mundo lá fora que me interessasse, se tinha a areia nos pés e o horizonte infinito para fitar. Não queria conhecer terras frias onde a neve cobre de um manto branco os montes e vales, nem queria conhecer os desertos intermináveis de areia seca que muda com o vento.
Não queria voar, nem queria marcar o mundo com a minha pegada. Queria apenas nadar na minha praia, sentir o calor aliviado pela frescura da água do mar, e sentir o corpo vivo.
Mas um dia a tragédia abateu-se. Era Domingo, mas não foi um dia sagrado. Os ventos ficaram furiosos e a chuva fustigou cada casa, cada pedra, com uma raiva desmedida. Não sei o que tínhamos feito para motivar aquela fúria, mas fomos estraçalhados por ela. Não houve pedra que ficasse por revirar na praia e a areia fina, tão delicada, espalhou-se por quilómetros e esvaziou o nosso recanto.
O mar ficou cheio de lixo que veio pelo ar, roubado de quintais e ruas à volta. E nós ficámos destituídos da nossa praia. Eu fui roubada do meu sonho.
Coloquei a mochila ás costas e comecei a minha viagem em busca de um paraíso para assentar. Subi o país e procurei na capital, mas a confusão da grande cidade assolou-me e num instante me senti a rodopiar, como um pião que não pára, e voltei a fugir, a sentir-me cada vez mais só e perdida.
Leia este tema completo a partir de 20/8/2012
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