Raizonline - Jornal - Radio - Portal

ANGELOPOULOS - O PASSO SUSPENSO DA CEGONHA

 

ANGELOPOULOS - O PASSO SUSPENSO DA CEGONHA

 

Aqueles que viram «A Viagem dos Comediantes» ou «O Apicultor» poderão reconhecer a marca de Angelopoulos. Mas isso não chega para, conhecer este filme. Pelo contrário, reduzir «O Passo Suspenso da Cegonha» aos protocolos e códigos de um estilo seria a melhor forma de o perder.
 
Porque o essencial é exactamente o contrário: conseguirmos perceber como, através de um estilo que se reforça pela repetição, Angelopoulos consegue fazer passar o absolutamente inédito, o inteiramente outro, a novidade radical de uma experiência humana.
 
Dessa experiência, poderemos dizer que ela é de uma actualidade agudíssima. Em certa medida, é possível afirmar-se que nenhum filme contemporâneo se aproximou tanto, e com tal intensidade e inteligência, das questões fundamentais do nosso tempo.

 

A primeira salta aos olhos, e tem a ver com o retorno das pulsões nacionalistas e o retraçar demencial e obsessivo de novas linhas de fronteira. Aqui, Angelopoulos, sempre mais complexo do que alguma vez poderíamos imaginar, diz-nos que a linha de demarcação é absurda, e é essa ideia que sustenta o absurdo do passo que se suspende sobre o arbitrário dessa linha (mais um centímetro e é o tiro que parte, a morte que irrompe, insensata); mas diz-nos também, no movimento doloroso da lucidez quase insuportável de toda a sua obra, que são os próprios homens, mesmo os mais miseráveis e desprotegidos, que continuam a traçar fronteiras, divisões e separações, redutos de sangue e de ódio, no interior das suas próprias e devastadas terras de exílio. Sublinhemos este ponto: «O Passo Suspenso da Cegonha» lança-nos num impulso de utopia, mas sem nunca rasurar o que de mais contraditório e trágico existe no coração dos homens.

 

Leia este tema completo a partir de 9/4/2012

 

 



05/04/2012
0 Poster un commentaire

Inscrivez-vous au blog

Soyez prévenu par email des prochaines mises à jour

Rejoignez les 17 autres membres