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APARTAMENTO 607 - Por Marcelo Pirajá Sguassábia

 

APARTAMENTO 607 - Por Marcelo Pirajá Sguassábia

 

 Naquele cubículo eu a amei mais do que seria o bastante a dois mamíferos normais. Ou mais do que seria conveniente aos olhos e ouvidos dos vizinhos.

- Essa penugenzinha mais espessa caminhando pro seu umbigo, olha só.

- Ah, seu bobo. Cada uma...

 

Viro pro outro lado e dou com o peixe em zigue-zague ali no aquário, assustadinho. A falta de gravidade, zumbe a bomba de ar, há um verde musgo nos cascalhos e o reflexo da gente distorcido no vidro.

 

 Quero que a tarde plane sobre a pólis desse jeito, com a tv ligada e nos ligando por um zonzo abandono de afazeres. Além do mais, há quase um tudo nesse nada, e é um estrondo a brisa leve nas avencas. Que mais a gente pode desejar, a não ser o dilatamento do tempo governando o espaço nosso?

 

- Alguém acendeu um aqui perto, sente o cheiro.

- Cheiro é o seu, meu bem.

 

 Cheiro é o dela. Estrógeno concentrado nos cabelos fininhos da nuca. A falta que você fez enquanto hoje não chegava, se soubesse. Se soubesse se arrancava de onde estava e se atirava sem vergonha sobre mim, antes do prazo combinado e dos procedimentos cumpridos.

 

Os dentes todos, brancos e seus, rompendo a carne da maçã. Que bom é assim, vendo você sem que se saiba sendo vista. O lençol se espraia em ondas pela cama. Florzinhas, detalhes, coisas de mulher que põe sentimento no cio. Há uma batalha em andamento nesses três metros por quatro, sem vencedor nem vencido, só a disputa e a conquista do território do outro. Estar dentro do outro lado, ser os dois lados e um só. Depois é água e bandeira branca, amor.

 

Leia este tema completo a partir de 19/3/2012 

 

 



18/03/2012
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