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Até um poder desconhecido - Texto e Poemas de Ilona Bastos

 

Até um poder desconhecido - Texto e Poemas de Ilona Bastos

 

 

Olhou para o quadro e sentiu-se, literalmente, engolida pela paisagem.

 Tratava-se de uma pintura em tons fortes e traços largos, representando uma senhora, de chapéu, a coser, e uma rapariga, de vestido rosado, a ler, sentadas, ambas, tranquilamente, em cadeiras de lona, sob a copa pujante de uma árvore. Ao longe, o mar profundo alongava-lhe o olhar, e os verdes, azuis, amarelos e rosas intensos, de um parque próximo, algemavam-lhe os sentidos, sem pudor.

 

Em vão procurava arredar a vista dos confins da tela e concentrá-la no espelho, à sua frente, pelo qual terminava a maquilhagem matinal, antes de sair para o emprego.

 

 O quadro, comprara-o no dia anterior, em sereno passeio pelo centro comercial. Incauta, observava os posters expostos, um a um, quando inesperadamente lhe surgira aquela paisagem de amena tarde de verão à beira mar.

 

 Fulminada, suspendera o movimento dos braços, das pernas, até do diafragma, no subir e descer da respiração.

 

 Tentara depois retomar o controlo do corpo, encetar o gesto largo que tornaria aquela visão em passado, na sua retina. Recompondo as feições, simulara até observar outras gravuras. Mas, nelas, as linhas pareciam diluídas, os tons baços, sem rigor ou viço. Em suma, sem vida!

 

Mesmo assim, ensaiara alguns passos no sentido do expositor vizinho, perante o olhar já desconfiado da vendedora.

 

Só que a atracção daquele quadro parecia-lhe inexorável e não conseguira opor-lhe resistência. Febrilmente, perguntara o preço, passara o cheque e trouxera, debaixo do braço, Femme Cousant, de Henri Lebasque, abrigado da chuva fria de Dezembro.

 

 Leia este tema completo a partir de 11/6/2012

 



10/06/2012
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