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Biografias - «A mão de Frei Januário» - Conto de José Maria Oliveira

Frei Januário era um daqueles irmãos especiais, que aparecem, de quando em onde, como se vindo directamente das calendas franciscanas, cheio de bonomia, pachorrice, boa vontade e um certo sortilégio gastronómico, sobretudo para rebuçados, pelos quais se sentia, pecadoramente, melodependente...e quantos perdões a Deus já lhe tinham saído da alma, ainda mal os papelinhos tinham chegado ao chão! Mas da boca é que ele não os largava.

Vivia, descuidado, numa pequena congregação de Beneditinos e, para além das esmolas, que placidamente compartilhava com os mais carentes, dedicava-se a apascentar meia dúzia de bezerras, e a tratar duma leira de couves, nas cercanias dum pequeno convento adaptado dum velho «shopping» abandonado, que compartilhava com mais 17 irmãos e irmãs, em grande austeridade.

Ora aconteceu, numa bela tarde de Verão, daquelas em que nem as varejeiras, se atrevem a zumbir sobre o que quer que seja, que, um pequeno cachorro, que andava ali por perto, se enfiou para dentro da emaranhada engrenagem duma debulhadora placidamente, (parecia) adormecida, à espera das debulhas.

Frei Januário não hesitou e num gesto meio irreflectido, como quase todos os gestos que partem do coração, enfiou o braço para dentro da máquina e zás! O diabo tece-as! A máquina desatou a trabalhar e a mão direita do bom do frade, desapareceu por entre lâminas, rodízios, ferrugem, muito barulho e... restos de palha.

Foi uma sorte! No hospital onde deu entrada, acabara de chegar, ainda quente, sob a forma de cadáver, um conhecido larápio, vítima de atropelamento, quando fugia a um grupo de comerciantes enfurecidos, que o tinham apanhado no gamanço!

A equipe médica que o transplantou foi imbatível. Em três horas, da mais lapidar e sábia microcirurgia, enxertara-lhe a mão direita do foragido, que parecia ter caído do céu, às maravilhas!

Leia este tema completo a partir de 16/7/2012