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José Varzeano - Coisas Alcoutenejas - A casa da roda

 

 

José Varzeano - Coisas Alcoutenejas - A casa da roda

 
 
(PUBLICADO NO JORNAL DO ALGARVE DE 30 DE DEZEMBRO DE 1993 – MAGAZINE)
 
No nosso trabalho, Alcoutim, Capital do Nordeste Algarvio… fizemos uma leve referência a este assunto.

 

Voltar a abordá-lo agora, significa que possuímos mais elementos. Além dos de ordem geral obtivemos os de carácter local e são esses efectivamente os que mais nos interessam.

Expostos para os mais literatos, enjeitados para o povo, eram as designações dadas àqueles que os progenitores abandonavam, neles se incluindo gentes de todas as camadas sociais, fazendo-o contudo por razões diferentes.

 

Vem de longe o hábito de abandonar os recém-nascidos.

Depois de várias fases começou a generalizar-se o abandono às portas das igrejas.

Os conventos possuíam rodas, espécie de cilindro giratório, aberto num lado e colocado verticalmente, a fim de receberem ali os objectos sem haver contacto directo com o exterior.
[Roda de Expostos. Des. de JV, 1993]

Sendo propício ao anonimato que se desejava, este engenho começou, a partir do século XVI, a ser utilizado para o abandono das crianças, o que se generalizou e veio a ser reconhecido em 1783, por D. Maria I. É ela que determina que «em todas as cidades e vilas do Reino» houvesse Casa da Roda, em lugar discreto para que aqueles que exponham crianças o pudessem fazer sem risco de serem reconhecidos.

 

Nenhum inquérito era feito para saber o nome dos pais, como se deduz do parágrafo anterior, mas a todo o momento estes podiam reclamar os filhos. Havia sempre um registo daquilo que acompanhava o enjeitado.

 

Esta medida oficial da criação de Casas da Roda teve o intuito de evitar o número crescente de infanticídios, o que veio a conseguir-se, subindo, como consequência o número de expostos.

Até aos sete anos os expostos eram entregues às amas, regressando nesta altura aos hospícios, onde permaneciam até aos doze, altura em que eram colocados a quem lhes pagasse melhor salário. Até atingiram os vinte e um anos continuavam sobre a protecção do juiz dos órfãos.

 

O Marquês de Pombal dedicou muito interesse a este assunto, procurando caminho profissional aos expostos, criando com Pina Manique a Casa Pia de Lisboa. (1)

Veremos agora o que podemos referir a nível local.

 

É de 1837 a primeira notícia que encontrámos e que diz assim: as amas dos expostos devem ter, além dos mil e duzentos réis por mês, no princípio do ano, enxoval completo para o exposto. (2)

Por estas alturas as despesas com os enjeitados pertenciam às Câmaras e nelas se incluíam, entre outras, as da Casa da Roda, rodeira e ama de leite.

 

Em 1841, reunida a Câmara é de opinião de que «carecendo o telhado da Casa da Roda desta vila de ser revolvido pelas muitas goteiras que já tem, tal despesa seja feita por conta da rodeira, visto que nenhum aluguel paga, devendo assim concorrer com esses pequenos reparos, ficando a cargo da Câmara os maiores». (3)

[Antiga e desaparecida farmácia, propriedade municipal e onde funcionou a Casa da Roda. Des. de JV, 1993]

Na sessão da Câmara de 11 de Fevereiro de 1842, o Presidente disse que era necessário nomear nova ama de leite e que ele, levado pela necessidade, o havia feito interinamente a favor de Ana Baptista, desta vila, que julgava ser muito capaz não só por ter muito bom leite, mas também por ser actualmente rodeira.

A Câmara transformou a nomeação em definitiva.

Meses depois conclui-se que havia falta de amas de leite visto o ordenado não ser convidativo. Só obrigadas se conseguiam.


 Leia este tema completo a partir de 11/04/2011

 



09/04/2011
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