Ciganos - Já fui pequenina - Dois contos de Virgínia Teixeira
Ciganos - Já fui pequenina - Dois contos de Virgínia Teixeira
Ciganos
A erva cresce selvagem em ambas as margens do rio. Naquela zona parece alargar o caudal do rio e as margens separam-se mais, e o som do povo, tão ruidoso e alegre, não chega a galgar a outra margem.
Parecem parte da natureza, não são vistos nem ouvidos, e sentem-se seguros para ali ficar algum tempo. Montam as tendas com os panos envelhecidos mas ainda coloridos e distribuem as tarefas pelos homens, enquanto as mulheres se juntam na tenda maior e aquecem a comida nas grandes panelas que parecem vibrar quando são retiradas da caravana.
As crianças brincam na beira do rio, fascinadas pelos seixos e peixes que abundam naquela margem, e ajudam os anciãos a pescar.
Seguem sempre o rio, não sabem já se por hábito apenas, e quando o começaram a fazer, mas não se recordam de o fazer de outra forma. Seguem o rio e descansam nas margens, onde podem banhar-se e lavar a roupa e as louças.
Já fui pequenina
Já fui pequenina. Já brinquei pelas ruas e ri sem parar. Já me escapuli por sítios proibidos, onde o perigo espreitava e eu não o temia. Já adormeci no colo do meu pai, segura e protegida. Já rejubilei por ver o amanhecer, prova de força e coragem entre crianças sonolentas demais para comemorações. Já embalei no regaço bonecos, com o carinho maternal de criança. Já vi a alegria passar por mim e parar para me cumprimentar...
Já cresci, vi o mundo em mudança e tentei segurar-me com unhas e dentes à sanidade do adeus. Vi amigos morrerem em mim, vi-me morta em tantos outros... Vi a dor da despedida como um ritual comum, sem mostrar as chagas que ainda hoje não vejo saradas!
Leia este tema completo a partir de 25/6/2012
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