COLUNA DE MANUEL FRAGATA DE MORAIS - O imaginário no texto Angolano - Filipe Correia de Sá - MBOA, LELA E PENSAL NO SONHO DO REI
COLUNA DE MANUEL FRAGATA DE MORAIS - O imaginário no texto Angolano - Filipe Correia de Sá - MBOA, LELA E PENSAL NO SONHO DO REI
Por essa altura, os negócios do reino não estavam em bom estado. O rei procurava saídas para dar conforto ao povo. De todos os lados, surgiam notícias que não lhe agradavam. Gente procurava-o diariamente para se colocar sob sua protecção. De acordo com um costume antigo que obriga o soberano a dar guarida a quem o procura. Acrescentou às suas ocupações habituais aquelas que sem ele não frutificavam.
Os cofres do reino estavam na penúria, o dinheiro desaparecia e o que circulava tinha pouco valor. No mercado, só se comprava a troco de mercadoria. Quase todos se recusavam a aceitar dinheiro. Um pano valia um boi. Os mercadores viam-se e desejavam-se para transportar o produto das suas vendas.
Os campos não produziam por causa da seca. Ir para a guerra não era uma solução, pensava o rei com a maioria dos seus conselheiros. A situação nos reinos vizinhos não era muito melhor. Os mais distantes eram demasiado poderosos para que se atrevessem a ir até lá, a guerrear.
A longa caminhada bastaria para dizimar metade dos seus soldados, sem contar as guerras que teriam de travar ao longo dos reinos que fossem atravessando; o estado enfraquecido dos domínios do rei poderia atrair a cobiça de algum vizinho mais ambicioso e aventureiro. Tudo isto preocupava o soberano. Já havia notícias de pilhagens: aldeias subitamente assaltadas e arrasadas por misteriosos bandos; gente e povoados inteiros que desapareciam, sem deixar rasto.
Os adivinhos não conseguiam dar respostas capazes de conduzir o rei a tomar uma decisão acertada, embora lhe dizimassem as capoeiras nas consultas. Era uma ou mais galinhas de cada vez, conforme os casos. Por vezes cabritos e até mesmo bois. O rei meditava nas soluções a adoptar.
Uma noite, das raras noites em que adormeceu, teve um sonho. Vinham três mulheres pela estrada: uma trazia um cajado, a outra um pote de mel e a terceira uma criança de colo que amamentava. A criança crescia e ficava do tamanho da mãe sem sair do colo dela e depois voltava a ser de novo pequenina e até quase desaparecia, voltava acrescer toda num só olho, límpido como só as crianças são capazes, e onde, sonhando, o rei mergulhou seu espírito inquieto.
As três mulheres caminhavam à frente dos olhos dele a olhar para lá de si sem saírem de lá. Ao mesmo tempo que via o que elas viam de dentro dos seus olhos, olhava-as de frente, na paisagem. Uma delas parou, as outras duas imitaram-na e ela disse:
Leia este tema completo a partir de 24/9/2012
Inscrivez-vous au blog
Soyez prévenu par email des prochaines mises à jour
Rejoignez les 17 autres membres