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Coluna de Manuel Fragata de Morais - O IMAGINARIO NO TEXTO ANGOLANO - UMA SOMBRA de António Assis Júnior

 

Coluna de Manuel Fragata de Morais - O IMAGINARIO NO TEXTO ANGOLANO - UMA SOMBRA de António Assis Júnior
 
Advogado, jornalista e escritor angolano nascido a 13 de março de 1887, em Luanda, e falecido a 27 de maio de 1960, em Lisboa. Assis Júnior foi várias vezes preso, como sucedeu em 1917, acusado de ser um dos responsáveis do Movimento Nativista ou Revolta de Nativos e também, em 1922, durante os acontecimentos de Catete.

 

Foi o primeiro Presidente da Liga Nacional Africana, em 1930, foi diretor de A Província de Angola e de O Angolense, e fundador da revista Angola. Enquanto advogado, exerceu o cargo de procurador judicial das populações autóctones, sobretudo em litígios de expropriação de terrenos.

Foi-lhe determinada residência em Portugal, como preso político, nos anos 50 e 60. Aí, a convite de Rodrigo Sá Nogueira, professor de português, estudou quimbundo na Escola Superior Colonial, vindo, mais tarde, a publicar o Dicionário Quimbundo-Português.
 
Destacou-se como uma das figuras de maior relevo na vida intelectual angolana, em finais do século XIX e inícios do século XX. Escreveu Relato dos Acontecimentos de Dala Tando e Lucala (1917) e O Segredo da Morta (um romance de costumes angolenses).
 
UMA SOMBRA
 
Seis horas de uma tarde de Fevereiro.
 Entre as Ruas de Sá da Bandeira e Oliveira Massango, imediações do mercado, notava-se desusado movimento, próprio dessa hora, de homens mulheres e crianças que se dirigiam para as bandas dos bairros de Cahoios, Cambunze e Capacala, recolhendo aos domicílios.
 
No mercado, murado, calcetado e gradeado, tendo ao centro um alpendre coberto de zinco, as quitandeiras de fuba, azeite, batata e peixe seco armazenavam os balaios e quindas, potes e cabaças, dando assim por finda a faina desse dia, para continuar no imediato.
 
Outros homens, gente de ganho, de passo ligeiro, transportavam sacos e outros volumes á cabeça e tudo se encarreirava para aqueles lados onde as mulheres chegavam, e formavam grupos com as que encontravam – umas conversando e criticando os acontecimentos do dia, outras as cenas doméstica -; estas de pé, de quindas à cabeça e mãos à cintura, aquelas assentadas, com grandes lenços cobrindo-lhes as cabeças e, finalmente, ainda outras varrendo o terreno fronteiro às portas.
 
Todos aqueles grupos conversavam animadamente, e até pareciam dominadas pela mesma ideia, ou interessados no mesmo assunto sobre que conversavam, a avaliar pela forma e olhares perscrutadores por tudo que os cercava, cheios de curiosidade ou medo. As vozes, ao princípio alterosas e alegres, baixavam gradualmente de timbre, para que ninguém mais ouvisse o que diziam.
 
Todos esses colóquios ou conversas não podiam certamente deixar de referir-se, como os olhares davam a perceber, a uma pobre mulher, ainda nova, que um pouco distante, de passo incerto e olhar vago, os panos a arrastarem e a baba a cair dos lábios, se dirigia para os lados onde se encontravam.
 
Era o assunto de todos os dias, a conversas obrigatória sempre que duas pessoas se encontrassem nas encruzilhadas daqueles dois bairros, e vinha apaixonando consideravelmente os circunstantes desde que a doença da desgraçada rapariga se manifesta havia já cinco meses.
 
Ximinha Cangalanga, mais conhecida por a Doida dos Cahoios, constituía o objecto da conversa que dominava aqueles grupos. Natural de Luanda e filha de um Cabinda, patrão de lancha que fazia carreiras no rio Quanza, fora por seu pai entregue, anos antes, uma senhora do mesmo nome para ser educada. A mestra falecera havia já onze meses Ximinha, sem que ao princípio ninguém o suspeitasse, endoidecera haveria meio ano, depois de assistir a doença e o passamento da Rosária, sua condiscípula e amiga.

 

Leia este tema completo a partir de 5/3/2012

 



01/03/2012
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