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Crónicas e ficções soltas - Alcoutim - Recordações VIII - Por Daniel Teixeira - O meu primo calvo

Crónicas e ficções soltas - Alcoutim - Recordações VIII - Por Daniel Teixeira - O meu primo calvo

 

 

Não vou dizer qual o nome dele até porque o meu primo já faleceu e embora a(s) sua(s) histórias e as histórias passadas com ele sejam interessantes acho que não justifica estar aqui a desvendar - nomeando o personagem - uma coisa, a calvície, que ele tão laboriosamente escondeu ao longo dos anos. Vou contar apenas um aspecto, hoje...penso continuar com histórias diferentes tendo-o como autor ou contador.

 

De reparar, desde logo, que o defino como calvo porque na verdade dentro de todo o seu saber, que tinha algum, e o seu sentido de humor, que tinha muito, é este o aspecto que mais me lembro dele no sentido de ter procurado sempre e não ter encontrado até hoje uma explicação plausível para tal trauma que em certas circunstâncias acabava até por ser paradoxal.

 

Internado no Hospital de Vila Real de Sto António (numa altura em que ainda lá havia hospital é claro) devido a doença cardíaca que acabou por o levar, após ter aguentado durante alguns anos (poucos) um AVC bastante forte que lhe retirou a capacidade de falar , o meu primo, mesmo no seu estado, tendo-lhe sido retirada a peruca pelo pessoal de saúde, acabou por optar por colocar um lenço quase em estilo feminino em volta da cabeça...para tapar a calvície.

 

Sei, por leituras que tenho feito, que o adorno capilar é desde há cerca de 5 mil anos um elemento importante para a auto-estima das pessoas e chega a funcionar até como indicador sexual...mas, sejamos honestos...perante uma evidência e uma irreversibilidade há que viver o melhor possível com o que se tem...não é por acaso que o chamado «capachinho» é por vezes gozado...o cantor Carlos do Carmo andou anos com capachinho até ter chegado à conclusão que estava a ser ridículo (nas suas próprias palavras). Bem, mas voltando ao meu primo que não cantava fados...

 

Diga-se, em abono da verdade, que no caso dele não era uma simples e modesta falta de cabelo, umas entradas, ou mesmo um cocuruto desguarnecido: o arraso feito pela natureza ao seu cabelo, provavelmente resultado de alguma medicação tomada ou de alguma doença tinha-lhe apenas deixado umas farripas junto às orelhas e na parte baixa anterior do crânio, uma verdadeira razia, verdade seja dita. Era um homem relativamente novo na altura que o conheci, talvez com 30/40 anos e trazia já consigo este problema quando se casou com uma prima irmã da minha mãe.

 

Agora que o tempo passou calculo o problema que terá sido para ele confessar, em período de namoro, a sua quase ausência capilar craniana. Pelos vistos a minha prima, fazendo parte do ramo «desportista» de família, terá ido para casa, após a despedida, rir perdidamente, não pelo facto do seu futuro marido ser careca mas, tal como eu, por ele dar uma importância quase doentia a isso. Acho que ele levou as duas irmãs em socorro e suporte no dia da confissão...

 

Leia este tema completo a partir de 27/06/2011

 

 



25/06/2011
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