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Crónicas e ficções soltas - Alcoutim - Recordações XII - Por Daniel Teixeira - Os sem terra

 

Crónicas e ficções soltas - Alcoutim - Recordações XII - Por Daniel Teixeira - Os sem terra

 

Em Alcaria Alta havia apenas uma família, que eu me lembre, sem terra, quer dizer sem propriedade, sem terreno de cultivo. Mais importante que ter o seu «território» era sem dúvida ter as condições de sustento: num mundo onde a propriedade era já por natureza reduzida ela valia mais por isso, por aquilo que produzia e não tanto por aquilo que era.

 

Pobres, daqueles mesmo de pedir, apareciam pelo monte, já conhecidos todos: lembro-me porque me contaram mas já não conheci o «famoso» Lúcio que ganhou a sua fama não por ser pobre de pedir mas por ter um relacionamento simpático mais que de pedinte com o pessoal do Monte. Foi ele que esteve na origem da ainda hoje por aqueles lados usada frase: «Se tu fosses Lúcio, até o verde das hortas tu comias.»

 

A história passou-se precisamente com o João Baltazar, criança, com quem a mãe insistia para que ele comesse o cozido de couve. O Lúcio à porta, sentado nos degraus, comendo voraz do mesmo no prato que lhe fora ofertado, ia ouvindo a insistência para que o João comesse a couve e tantas vezes ouviu que não se conteve mais e gritou cá de fora: «Ah João, João...se tu fosses Lúcio até o verde das hortas tu comias!!»

 

Mas o João não era Lúcio, nem o Lúcio João e pedir por aqueles montes, todos eles de posse geral exígua, correspondia a um arco de intervenção bem largo: fazer a volta para aquele lado acontecia uma vez por mês, não mais, o que correspondia à necessidade de visitar trinta montes por mês, separados entre si por distâncias médias rondando os 10 Kms em terreno duro, de puxar mesmo pelo corpo e sobretudo pelo coração.

 

A existência de tensão arterial média muito alta por aqueles lados era atribuída ao uso da carne salgada que era a melhor forma de conservação desse tempo. Havia ainda umas coisas que eram muito boas, as chamadas «presas» de carne, normalmente retiradas da zona das costelas do porco, com uma reduzida quantidade de carne à volta do osso, mergulhados depois em gordura de porco e acabando esta banha por funcionar como conservante. Fritas depois e comidas molhando o pão eram «toneladas» de colesterol, é verdade, mas era muito bom.

 

 

Leia este tema completo a partir de 5/9/2011

 

 

 



01/09/2011
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