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Daniel Camacho - Prosa - Vida ; Declaração de Guerra; Musicalidades

 

Daniel Camacho - Prosa - Vida ; Declaração de Guerra; Musicalidades
 
 

Vida
 
A vida tem que ser vista com outros olhos, tem que ser apreciada com outros sentidos mais selvagens, menos certos, correctos, patéticos e rectilíneos.

Não existe só um Sol e uma Lua, não são 5 os Continentes, nem tão pouco 5 os Oceanos, os dias não têm 24 horas nem essas mesmas horas são constituídas por minutos e segundos.

 

O ontem nunca existiu, o presente não existe, e o futuro nunca existirá, porque o tempo não é só abstracto, é também irreal e arrasta consigo até ao pântano dos dias a voz que não se solta, a chuva que não cai, jorra do chão como se fosse um vulcão invertido, o vento não se passeia, foge, apenas foge de um não sei o quê que o chateia veemente a toda a hora inexistente.

 

A música não se ouve, sente-se, as palavras não se escrevem, nem se lêem, sentem-se e sentam-se cansados num banco de um jardim abandonado, os inúteis pensamentos, os inúteis sentimentos e abraçam rijos os acordes que os passos traçam num chão de cimento.

 

Declaração de Guerra
 
Eu, Incoerdo Rafazedo, Rei da Terra Sagrada do Vácuo, Rei de coisa alguma que causa impacto, declaro guerra aos primórdios, aos primeiros acordes de sangue raivosos que correspondem às primeiras letras desenhadas a cores e ao estômago torcido e retorcido de dúvidas e dores.

 

A mesma guerra prometo à cumplicidade, à intimidade, ao segredo, à saudade e a todas essas coisas amargamente alheias.

Aos nomes transformados em esconderijos, às megalomanias roucas e a outros cobardes isolados – darei guerra!

 

E terão guerra minha as frases começadas por Ai e as frases acabadas Ui, as tristezas degeneradas em fraquezas e as lágrimas masturbadas, assim como a sempre fresca repetição de si próprio, a incontestável auto-aprovação e os ódios também muito dependentes do egocentrismo puro.

 

Musicalidades
 
A princípio apenas a escuridão reinava, nem um ruído, nem uma só coisa, um só gesto patinava naquela praça vadia...

...depois a pouco e pouco as cores foram ganhando ânimo, vida, tomando formas desconhecidas...

...as sombras coloriam numa sucessão de movimentos controlados, o chão, castanho, madeira velha a chiar por dentro daquelas paredes desventradas...

 

...depois o tecto surgia sobre as nossas cabeças desprotegidas, num tom meio beije, meio sujo, incompatibilizado com as pautas surdas dos loucos, os outros abrigos que se fechavam e tombavam na atmosfera silenciosa ...

 

...as portas ganhavam forma e irremediavelmente abriam-se e fechavam-se como se tratasse de um piscar de olhos faminto, um desvio fictício na atenção da febre sonora, humildes sons que jorravam num lento labirinto experimental.

Nessa altura surgia uma música, uns salpicos, umas gotas entre gritos a rechear aquele momento suspenso no espaço, tipo Massive Attack ou outra coisa qualquer...

 

 

Leia este tema completo a partir de 13/8/2012

 

 

 

 

 



11/08/2012
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