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Daniel Camacho - Prosa - Vida ; Domingo; Musicalidades

 

Daniel Camacho - Prosa - Vida ;  Domingo; Musicalidades
 
 
 

 

Vida
 
A vida tem que ser vista com outros olhos, tem que ser apreciada com outros sentidos mais selvagens, menos certos, correctos, patéticos e rectilíneos.

Não existe só um Sol e uma Lua, não são 5 os Continentes, nem tão pouco 5 os Oceanos, os dias não têm 24 horas nem essas mesmas horas são constituídas por minutos e segundos.

 

O ontem nunca existiu, o presente não existe, e o futuro nunca existirá, porque o tempo não é só abstracto, é também irreal e arrasta consigo até ao pântano dos dias a voz que não se solta, a chuva que não cai, jorra do chão como se fosse um vulcão invertido, o vento não se passeia, foge, apenas foge de um não sei o quê que o chateia veemente a toda a hora inexistente.

 

Domingo
 
Um domingo, uma tarde de domingo qualquer, a ultima vez que a vi. Hoje não sei em que dia parei, nem sei se é dia, se é noite ou outro estado de sobrevivência qualquer, nem sei se devo pensar ou se me devo afastar das questões e das ideias que me assaltam no escuro-claro que por vezes acontece, talvez seja melhor atar-me à cegueira que a vida cospe e deixar-me levar sem destino pelos oceanos de vários destinos.

 

Um domingo, uma tarde de Outono selvagem perdida no tempo. Continuo preso a esse momento que não passa, repete-se infinitamente no espaço e segue perfurando a minha consciência. Lembro-me que nesse fim de tarde, as folhas não caíam sós, as lágrimas perdiam-se clandestinamente no meu rosto, arfavam nas tuas mãos. Os candeeiros timidamente acendiam-se e tremiam, não de frio mas de dor, enrolados nas paredes da estação, tombavam com os adeus repetidos.

 

Musicalidades
 
A princípio apenas a escuridão reinava, nem um ruído, nem uma só coisa, um só gesto patinava naquela praça vadia...

...depois a pouco e pouco as cores foram ganhando ânimo, vida, tomando formas desconhecidas...

...as sombras coloriam numa sucessão de movimentos controlados, o chão, castanho, madeira velha a chiar por dentro daquelas paredes desventradas...

...depois o tecto surgia sobre as nossas cabeças desprotegidas, num tom meio beije, meio sujo, incompatibilizado com as pautas surdas dos loucos, os outros abrigos que se fechavam e tombavam na atmosfera silenciosa ...

 

...as portas ganhavam forma e irremediavelmente abriam-se e fechavam-se como se tratasse de um piscar de olhos faminto, um desvio fictício na atenção da febre sonora, humildes sons que jorravam num lento labirinto experimental.

 

Nessa altura surgia uma música, uns salpicos, umas gotas entre gritos a rechear aquele momento suspenso no espaço, tipo Massive Attack ou outra coisa qualquer...

o céu cor de chumbo, dançava ao som gélido de Sigur Rós, enquanto as árvores de folhas caídas absorviam a essência de Knives out, cuspiam as notas de Björk como se de chuva tratasse. O bafo gélido caía ao chão sempre que sentia por perto os doces acordes de Lisa Ekdahl.

 

 

Leia este tema completo a partir de 3/9/2012

 

 

 

 

 



02/09/2012
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