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Escolhas - Um Conto/Novela de VIRGINIA TEIXEIRA - Parte I 
 
O mar está calmo. As poucas ondas que rebentam na praia são tão frágeis que não chegam para lhe molhar os pés. E ela está bem perto, sente-se repleta da maresia e do cheiro a infinito. Olha sem olhar para o horizonte e perde-se nas viagens dos barcos que transportam os pescadores que vivem deste monstro fascinante que é o oceano. Ela conhece a vida dos pescadores porque viveu numa terra onde as gentes cheiram a peixe e se ouvem pregões todas as manhãs no mercado, onde as esposas vendem o que os maridos andaram a pescar pela noite dentro.

Ela gosta de se lembrar das madrugadas em que ia buscar o avô ao porto. Recorda esse homem com um carinho misturado com repugnância. Hoje sabe enfatizar o bom que o avô era, mas na altura aquele cheiro a peixe e a rudeza das mãos de trabalhador, impressionavam-na.

Quando a pegava ao colo sentia-lhe os calos das mãos a arranharem-lhe a pele e sentia-se enjoada com o cheiro. Estranho… agora sente tanta falta daquele cheiro…Onde mora não conhece um porto que tresande a sardinhas ou qualquer outro peixe.

Há gado, mas desse não se aproxima, o cheiro é bem pior do que o da sua terra natal. Vive há demasiados anos numa terra recôndita da Inglaterra e as poucas vezes que regressou, passou a maioria das horas sentada à beira daquele mar da sua infância. Sente que o ama mais quanto maior é a distancia, quanto maior é o tempo que passa longe dele. Sente-lhe a falta quase visceralmente e só assim se sente finalmente pertença daquele lugar.

Era menina e já sentia que não pertencia ali. Não sabia ser neta de pescador nem viver das sobras do mercado. A mãe, uma mulher doente, constantemente com uma tosse cavernosa, trabalhava de sol a sol na cidade próxima, a limpar casas, cada vez mais atacada pelo pó com que tinha de conviver diariamente.

Leia este tema completo a partir de 8/8/2011