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Escolhas - Um Conto/Novela de VIRGINIA TEIXEIRA - Parte I I

Ela, Leonor, uma menina de doze anos, saltou de repente e tornou-se numa mulher. O corpo parecia querer acompanhar a sua vida, e de repente pareceu desenvolver-se mais depressa, até que, antes dos treze anos, já tinha seios bem arredondados e as ancas davam sinais de mulher.

A mãe nunca percebeu que algo maior que tudo isso acompanhava estas mudanças, e nem quis perceber que a filha já não era ela mesma. No segundo verão passou a criada interna dos Amarante, e o salário aumentou.
 
O avô ia à pesca tantas vezes quanto antes, mas andava cansado, as mãos tremiam-lhe desconcertantemente e, menos de um ano antes dela fazer quinze anos, morreu.

Menos de um ano antes de tudo mudar. Pelo menos ele não soube. Menos um para entristecer. Talvez por isso agora se lembre do avô com mais carinho. Afinal ele foi o único que não a repudiou.

O único que não baixou o rosto quando ela saiu de casa. A mãe não entendeu, ou não quis entender.
Anos mais tarde parece que a perdoou. Pelo menos começou a descontar os cheques. Não que isso queira dizer muito, mas sentiu-se quase feliz quando pela primeira vez viu aquela quantia descontada. Depois de quase quinze anos em que todos os meses lhe enviava uma avultada quantia, na esperança de uma resposta, de um qualquer contacto.

Mas, afinal de contas, ela fizera o mesmo que o pai. Procurara uma vida melhor sem se deixar comover pelas lágrimas dos outros. Nem se deixou comover pelas suas. Nem as que deitou nas primeiras vezes nem as que deixou de deitar pouco depois.

Ela sabia que não pertencia àquele casebre paupérrimo, nem àquela vida de miséria. E quando a oportunidade surgiu, não olhou para trás. Como o pai, que se despediu sem lamentos e prometeu o que nunca cumpriu. Ela também não voltaria. Pelo menos jamais voltaria a ser Leonor, a neta do pescador. Leonor, a criada. Leonor, a menina. Isso também não soube voltar a ser.

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