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Escolhas - Um Conto/Novela de VIRGINIA TEIXEIRA - Parte I I I

 

Escolhas - Um Conto/Novela de VIRGINIA TEIXEIRA - Parte I I I

 

Apenas no verão seguinte se soube pela terra o que realmente se passava. Um dos filhos mais novos dos Amarante entrou no quarto dos pais durante a noite, assustado com um pesadelo, e encontrou a mãe a dormir numa cama de campanha estreita, e o pai na cama com Leonor.
 
Não os acordou, demasiado perplexo para saber o que lhes dizer, o que lhes perguntar sequer. Sentiu-se assustado, mais do que com os monstros do pesadelo, e simplesmente oco. Uma semana mais tarde contou ao irmão mais velho e foi este que teve coragem de lançar a guerra, armado por um amor inabalável pela mãe que sentia vitima demais.
 
Confrontou o pai violentamente, sem medo nem da sua força nem do seu poder, porque o respeito perdera-o todo no momento em que vira o irmão chorar e revelar-lhe toda aquela perversidade. E sem se deixar domar atacou a própria mãe para a obrigar a reagir.
 
D. Elisa, cansada demais de anos de tortura e sofrimento, não conseguiu explicar ao filho o tamanho do vazio que trazia no peito e as amarras que a impediam de agir. Apenas soluçou perante os gritos do filho e pediu-lhe perdão, como se tudo aquilo fosse de facto, apenas e exclusivamente, culpa dela. Na verdade, até certo ponto, era.

Afinal, fora ela que, quando descobrira o marido no quarto de Leonor, a pusera fora. E fora ela que a fora buscar, quando o marido a ameaçara de divórcio. Ela, aterrorizada com a ideia de viver só, de deixar de despender dos meios para uma vida luxuosa, deixou-se humilhar e rastejou para trazer a menina de volta.
 
E depois, quando a instalou em casa, ficou ainda mais humilhada por ser renegada para uma cama de campanha, enquanto via o marido partilhar o leito com uma criança. E todas as noites que os ouvia beijarem-se, tocarem-se, que lhes ouvia os murmúrios e os gemidos, sentia-se mais pequena, menos mulher, menos pessoa.
 
Mas não sabia cessar toda aquela dor. E eles pareciam gostar de a ouvir soluçar, enquanto se deitavam como animais, sem medo de a ferir com os sons da luxúria. Ela não podia fazer nada e eles sabiam, e gozavam com isso. O marido, mais cruel do que nunca antes, falava-lhe com carinho perto dos filhos, ao mesmo tempo que a fazia ouvir todas as declarações que proferia à menina.

 

 

 Leia este tema completo a partir de 5/9/2011

 

 



03/09/2011
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