Raizonline - Jornal - Radio - Portal

JORNADA CREPUSCULAR - Pelo Dr. Mário Matta e Silva - Apelos à Instrução Pública

 

JORNADA CREPUSCULAR - Pelo Dr. Mário Matta e Silva - Apelos à Instrução Pública
 

Volto à minha jornada pelo século XIX e vou relembrar os apelos de muitos intelectuais liberais à Instrução Pública, ao ensino regular, do primário, do secundário, do técnico…
Pode parecer uma abordagem elementar, básica, mas não é tanto assim. O povo era, por meados do século XIX, 80% analfabeto, portanto, não sabendo ler nem escrever.

 

Hoje entristece-me que ainda se vejam raparigas e rapazes fugindo da escola, andando por aí vadiando e fazendo as mais variadas tropelias, quando não verdadeiros crimes, como tão recentemente aconteceu com o espectáculo horrendo e bárbaro de agressões físicas a uma jovem, cena filmada por rapazolas que as iam atiçando ao espancamento, o que viria a público na internet e até nos telejornais.

Cenas destas vão-se repetindo e são noticia e objecto de intervenção judicial. Logo me recordei dos nossos homens de oitocentos que tanto exigiam o ensino obrigatório para todos, confrontando-se com a falta de escolas, de professores e de meios adequados à época.

«A instrução e a formação do espírito público tornou-se a opção mais importante depois da guerra civil (1834), dada a situação criada ao longo dos séculos por uma politica por todos considerada obscurantista e nefasta.» Afirmações como esta serão então repetidas por intelectuais da época, como Herculano, Garrett, Castilho, Solano Constâncio, Mouzinho de Albuquerque, Abade de Medrões, Cândido Xavier, Henriques Nogueira e muitos outros.

Em 1860, Antero de Quental, afirmará: «Remissa e vagarosa vai a instrução por esta boa terra de Portugal e ai de nós se não se atende a este grave mal com prontos remédios; ai de nós, porque um povo que possui a liberdade sem instrução, a custo poderá conservá-la…»

Não será outro o ponto de vista de Henriques Nogueira, quando redige, nos meados do século (1851) os seus «Estudos sobre a Reforma em Portugal.» associando aqui as noções de «geração nova, ideia nova e nova sociedade» considerando que a educação de base constituía ao tempo uma das tarefas centrais da Nação.

Voltando à realidade de hoje, somos confrontados com apelos ao uso de novas tecnologias (caso dos computadores Magalhães) sem que se sustente em primeiro plano a escolarização obrigatória e o seu processo de controlo.

Os pais não podem demitirem-se das suas obrigações como educadores e não podem demitirem-se também dos males e das prevaricações socialmente causadas por seus filhos, quer dentro, quer fora das escolas, devendo por isso ser os pais tão ou mais responsáveis de desacatos públicos, roubos ou espancamentos, que seus filhos possam tornar em actos públicos por demais degradantes e violentos.

O não aproveitamento escolar, em determinadas idades, deveria ser crime também em relação aos seus encarregados de educação. A instrução publica dos nossos dias, não está, infelizmente, mais atraente, mais gratificante, mais motivadora e activa, do que a de esses tempos recuados do século XIX.

Não basta apontar o dedo aos professores, tornando-os os «bodes expiatórios» de uma vida escolar menos sã e menos atractiva, no campo da educação dos jovens. Todo o ambiente escolar que hoje temos, incluindo os sistemas de avaliação, chamam, quase sempre, à incúria, à preguiça, à desobediência, ao «deixa andar» por parte dos jovens, que acabam por não serem devidamente acompanhados, em suas casas, pela família, nem nas suas escolas, quando as frequentam.

Tem faltado uma politica linear, conjunta (pais e professores), persistente, no nosso sistema escolar, tão recheado, isso sim, de confrontos políticos e de abordagens ideológicas, prejudiciais à boa pedagogia, aos meios de aprendizagem tecnicamente avançados, mais adaptados às realidades e à diversidade da sociedade juvenil que temos.

Impõe-se por tudo isto que os governantes não se percam em discursos balofos sobre o ensino, mas que construam uma sã sociedade, uma «geração nova» capaz de assumir os nossos destinos amanhã.

 

Leia este tema completo a partir de 04/07/2011

 

 

 



02/07/2011
0 Poster un commentaire

Inscrivez-vous au blog

Soyez prévenu par email des prochaines mises à jour

Rejoignez les 17 autres membres