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Jornal Raizonline nº 126 de 27 de Junho de 2011 - COLUNA UM - Daniel Teixeira - As papas da farinha torrada

 

 

Jornal Raizonline nº 126 de 27 de Junho de 2011 - COLUNA UM - Daniel Teixeira - As papas da farinha torrada

 

Há pessoas que não são dos tempos em que não havia ainda a farinha torrada em pacotes. Eu sou do tempo em que já havia, salvo erro a farinha 33 e outras penso, mas nada suplantava a papa de farinha torrada feita pela minha mãe.

Usava uma frigideira, passava-a pelo fogo com sucessivas quase películas de farinha em tempo minuciosamente calculado pela prática, misturava açúcar e depois leite e era verdadeiramente interessante, agora que imagino, ver os três irmãos a lambuzarem as bochechas em colheradas tiradas de tigelas de barro ou de esmalte. Era esse o tempo, e era bom mesmo.

Depois a minha mãe começou a trabalhar mais na sua costura e deixou de ter tempo para torrar farinha: entrámos no consumo de pacote, mas realmente durante os primeiros tempos foi um sacrifício para nos habituarmos. Passados tempos já qualquer um de nós ia ao fogão, tirava o leite, fervido e a temperatura já aceitável, misturava a farinha e tomava o seu pequeno almoço ou lanche, dependendo...cada um a seu tempo, depois, as idades eram ( e são) aproximadas.

A magia daquela comunhão familiar à volta da farinha torrada caseira foi um passo forte (um entre tantos) para a nossa independência (e para algumas queimaduras nos dedos também) mas sobretudo considerámos que era necessário, a principio, depois bom e por fim óptimo já que não forçava horários rígidos.

Ora tudo isto não acontece porque se quer: normalmente são as circunstâncias que obrigam e quando não obrigam mesmo existe a chamada «lei do menor esforço». Havendo uns trocados no bolso lanchava-se no café: empregado de mesa, na altura, de casaquinho branco, por princípio impecavelmente branco, gente sempre amiga que até acabava por cobrir por sua própria sugestão em caso de «encolha» tímida por um dia ou dois uma despesa não solicitada e depois solicitada sem dinheiro em «poche».

Princípio da vida a crédito, inocente, porreirismo, gorjeta mais acelerada quase a título de juro, enfim...o ciclo foi-se compondo. A ideologia do gasto supérfluo ia-se implantando mansamente sem culpas ou directivas que pudessem ser atribuídas a alguém em particular. Era já o «sistema», a culpa, a haver, era já do sistema...

 

Leia este tema completo a partir de 27/06/2011

 

 

 



27/06/2011
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