Jornal Raizonline nº 181 de 30 de Julho de 2012 - COLUNA UM - Daniel Teixeira - As minhas memórias mais próximas (II) - Os colchões de palha
Jornal Raizonline nº 181 de 30 de Julho de 2012 - COLUNA UM - Daniel Teixeira - As minhas memórias mais próximas (II) - Os colchões de palha
Normalmente quando alguém começa a escrever as suas memórias tem-se por certo, entre algumas pessoas e nalgumas perspectivas, que de uma forma ou de outra essa pessoa está a antever um futuro que teme breve e que procura combater em si a consciência dessa fatalidade através da recitação das suas memórias.
Foi da forma acima escrita que eu na semana passada iniciei a minha crónica semanal. Como as coisas acontecem muitas vezes como surpresa nossa, embora o não sejam assim tanto, gostaria de acrescentar que no final da minha crónica anterior disse (escrevi) que se um dia escrevesse as minhas memórias não iria só falar do tempo de infância e da juventude, parte essa que reescrevo aqui:
As memórias de infância são extraordinariamente ricas e boas. Não nos faltava nada ou quase nada e nada fazíamos para obter aquilo que podíamos obter. Tínhamos o famosos ócio grego para gozar a infância e a juventude: mas ao viver e recordar em excesso esses excelentes períodos não quero um regresso nuanceado ao útero da saudável inconsciência.
Ora, esta semana e absolutamente por acaso no contexto do jornal está uma referência ao poeta e ensaísta Manuel Gusmão, referência esta que se ligou a um texto da Arlete Deretti sobre um romance marcante de Carlos de Oliveira, Finisterra, e nesse texto (aliás são duas páginas) está um poema de Manuel Gusmão que diz logo no princípio o seguinte:
Um poema de Manuel Gusmão
Uma Pedra na Infância
Põe uma pedra
uma pedra sobre a infância
Para que de vez se cale essa respiração
contida suspensa no escuro
Põe, digo-te, uma pedra de silêncio sobre
essa infância essa fala ininterrupta essa
falagem que falha e promete e inventa
os sonhos e as promessas o riso sem porquê
(...)
Enfim, eu não acredito muito em coincidências mas que as há é verdade e dentro desta perspectiva do deitar fora a infância, na forma metafórica, é claro, uma vez que ninguém pode deitar fora se não a memória da infância e mesmo assim acho pouco possível ou impossível mesmo, resolvi falar dos colchões de palha da minha infância, que fazem parte daquilo que se deitou fora, mas que me deixaram grandes saudades ou talvez não.
Leia este tema completo a partir de 30/7/2012
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