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Jornal Raizonline nº 218 de 15 de Abril de 2013 - COLUNA UM - Daniel Teixeira - As minhas memórias mais próximas (XXXIX)- Nem sempre temos tempo e é o tempo que nos tem
 

Lembrei-me de um facto que aconteceu comigo na Serra, no campo, como se diz, onde se ia buscar água a um poço que estava colocado num baixio e as pessoas por razões que são ancestrais constroem as suas habitações nos cimos dos locais e depois, mesmo desaparecidas as razões que levaram a essa agora para nós pouco fundamentada construção, acabam por ficar ligadas a essa localização.
 
Pode não vir muito a propósito estar a desenvolver isto, mas de uma forma geral as habitações foram construídas nos cimos dos cerros por razões que se prendiam com a insalubridade dos baixios, mais propensos à conservação de águas e resíduos que escorriam pelos montes e se depositavam naquilo que Orlando Ribeiro chamou de «charneca» e que agora tem já uma outra conotação.
 
Pois bem, passaram dezenas, senão centenas de anos, e o agregado populacional manteve-se sempre ligado entre si e, não se podendo mexer o poço, agora suficientemente salubre, poderiam ter-se mexido as casas mas tal não aconteceu, como neste caso que estou a contar.
 
Assim, a população do Monte que eu frequentava nas férias escolares, tinha vários poços, todos eles em baixios mais ou menos profundos e aquele que ficava à nossa frente e ao nosso maior alcance era bastante íngreme.

Vinha uma senhora a subir a ladeira com dois baldes de zinco um em cada mão e um outro à cabeça, quando ela começou a gritar para mim, que estava longe mas à vista dela, que a ajudasse: e lá fui eu. Comecei por tentar tirar-lhe o balde que ela trazia à cabeça mas não era esse que ela queria que eu tirasse, eram os outros dois que trazia nos braços e foi o que fiz. A coluna em princípio aguentava melhor que os braços, no seu entender.

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