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MIA COUTO E JOSE EDUARDO AGUALUSA - Apresentaram os seus dois novos livros

 

MIA COUTO E JOSE EDUARDO AGUALUSA - Apresentaram os seus dois novos livros

 

Confissão da Leoa de Mia Couto e Teoria geral do esquecimento de José Eduardo Agualusa foram os livros apresentados pelos próprios neste dia 10 de Maio. José Eduardo Agualusa apresentou Mia Couto fazendo um resumo sobre a carreira do consagrado autor e referências ao seu livro e por sua vez Mia Couto falou no mesmo sentido de José Eduardo Agualusa e da sua obra. Temos no final do texto um player com as intervenções gravadas de ambos.

 

A confissão da Leoa

 

 O novo romance de Mia Couto parte de uma história real, acompanhada de perto pelo escritor – biólogo de profissão – em 2008.

Na província de Cabo Delgado (norte de Moçambique), um grupo de leões começou a atacar pessoas, causando 26 vítimas mortais em poucos meses.

 

Numa nota inicial, o autor explica que na região havia quem acreditasse que «os verdadeiros culpados eram habitantes do mundo invisível, onde a espingarda e a bala perdem toda a eficácia».
Aos leões verdadeiros sobrepunham-se leões imaginários, «fabricados» (emanações ou espelhos da maldade humana), contra os quais mesmo o mais experiente dos caçadores nada podia, porque eles «eram apenas os sintomas de conflitos sociais».

 

Para contar esta história à sua maneira, Mia Couto centrou-a numa aldeia africana inventada mas arquetípica: um lugar agreste, em que «até as plantas tinham garras» e onde tudo o que é vivo «está treinado para morder».

 

Eis Kulumani, povoação doente e mesquinha, com cicatrizes da guerra civil, esquecida na imensidão da savana e subjugada a «arcaicos mandamentos» que moldam a sociedade («Todo o nosso presente era feito de passado»).

 

TEORIA GERAL DO ESQUECIMENTO


 
Pequeno extracto da obra

 

Ludo aproximou -se da porta. Viu o orifício aberto pela bala. Encostou o ouvido à madeira. Escutou o surdo arfar do ferido:
 água, mamã. Me ajude…
 
Não posso. Não posso.
 Por favor, senhora. Estou a morrer.
 A mulher abriu a porta, tremendo muito, sem largar a pistola.
 O assaltante estava sentado no chão, apoiado à parede. Não fosse a espessa barba, muito negra, e julgá - lo -ia uma criança.

Rosto miúdo, suado, olhos grandes que a fitavam sem rancor: Tanto azar, tanto azar, não vou ver a Independência.
 
Desculpe, foi sem querer.
 água, tenho bué de sede.
 Ludo lançou um olhar assustado para o corredor.
 Entre. Não o posso deixar aqui.
 
O homem arrastou -se para dentro, gemendo. A sombra dele continuou encostada à parede. Uma noite se desprendendo de outra. Ludo pisou aquela sombra com os pés nus e escorregou.
 Meu Deus!
 
Desculpe, avó. Estou a sujar a casa.
 Ludo fechou a porta. Trancou -a. Dirigiu -se à cozinha, procurou água fresca na geladeira, encheu um copo e regressou à sala. O homem bebeu com sofreguidão:
 O que precisava mesmo era dum copito de ar fresco.

 

Leia este tema completo a partir de 14/5/2012

 



11/05/2012
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