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O APICULTOR DE ANGELOPOULOS

 

O APICULTOR DE ANGELOPOULOS

 

O Apicultor passou há uns anos na televisão e nunca mais me esqueci. Revi-o há dias, e confirmei porque me impressionou tanto: é um filme onde tudo já está decidido na primeira cena, e onde o que se segue é uma espécie de longo epílogo. Um filme em forma de epílogo, uma ideia brilhante e tristíssima.

 

O Melissokomos (1986) é o sonoro título deste filme do grego Theo Angelopoulos. Na versão italiana que vi agora, mais curta e bastante escura, senti falta da melodiosa impenetrabilidade da língua helénica, mas notei curiosas afinidades meridionais.

 

O melissokomos / O Apicultor tem dois italianos, e que italianos: Marcello Mastroianni é o protagonista, e Tonino Guerra um dos argumentistas. Mastroianni e Guerra são génios naquele registo de cansaço metafísico, de lassidão poética aparentemente sem saída. Cineasta crepuscular,

 

Angelopoulos esqueceu por uma vez a história e a política, e centrou-se totalmente naquele homem envelhecido, Spyros, que encontramos no fim e já depois do fim.

 

 A primeira cena é um casamento sem alegria («sorriam, é um casamento», pede o fotógrafo). Spyros casa a filha, mas a boda demonstra a distância emocional que reina naquela família. O filho de Spyros nem olha o pai nos olhos. E a beldade que há muitos anos Spyros conquistou é agora metade de um casal estiolado, extinto.

 

é aquela sensação de que vos falava: logo no princípio já tudo acabou. à boa maneira melancólica italiana, a festa serve mais pelo efeito de fim de festa. E depois fica cada um entregue à sua solidão. Ao seu epílogo.

 

 O epílogo de Spyros é uma pequena odisseia através da Grécia, de Norte a Sul. Professor aposentado, ele é apicultor por tradição, e percorre o país à procura de mel, transportando dezenas de colmeias na sua carrinha.

 

O trajecto de Spyros, vamos percebendo, acaba por se fazer aos estremeções, menos pelo programa prévio de trabalho do que pelos humores imprevistos, pelas súbitas coragens ou nostalgias. Pode tentar a reconciliação com uma filha, pode testar um desastrado recomeço conjugal, ou visitar a casa da infância.

 

Nada fica realmente resolvido, ele não encerra de facto nada, nem creio que se reconcilie. Faz uma última volta, como os atletas depois da vitória. Que neste caso é uma derrota.

 

Leia este tema completo a partir de 5/3/2012

 

 



03/03/2012
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