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O filho do vampiro - de Julio Cortázar - Publicado em La otra orilla, 1945, El hijo del vampiro é considerado o primeiro conto escrito por Cortázar, em 1937.

 

O filho do vampiro - de Julio Cortázar - Publicado em La otra orilla, 1945, El hijo del vampiro é considerado o primeiro conto escrito por Cortázar, em 1937.

 

Provavelmente todos os fantasmas sabiam que Duggu Van era um vampiro. Não o temiam, mas deixavam o caminho livre quando ele saia de sua tumba precisamente à meia-noite e entrava no antigo castelo à procura de seu alimento favorito.

 

 O rosto de Duggu Van não era agradável, a quantidade de sangue ingerido desde sua suposta morte – no ano de 1060, pelas mãos de um menino, novo David armado de uma atiradeira-punhal – havia infiltrado em sua pele opaca a coloração mole das madeiras que ficam por muito tempo debaixo d’água. A única vida naquele rosto eram seus olhos. Olhos fixos na figura de Lady Vanda, adormecida como um bebê na cama que não conhecia mais que seu corpo leve.

 

 Duggu Van caminhava sem fazer ruído, a mescla de vida e morte que formava seu coração se resolvia em qualidades inumanas. Vestido de azul escuro, acompanhado sempre por um silencioso séqüito de perfumes rançosos, o vampiro passeava pelas galerias do castelo buscando depósitos vivos de sangue. A indústria frigorífica o houvera indignado. Lady Vanda, adormecida com a mão sobre os olhos como em premonição do perigo, parecia um bibelô, um terreno propício ou uma cariátide (1).

 

 Louvável costume de Duggu Van era o de nunca pensar antes da ação. Parado diante da cama, desnudando com a levíssima mão carcomida o corpo da rítmica escultura, a sede de sangue começou a ceder.

 

Se os vampiros de apaixonam é coisa que na estória permanece oculta. Se houvesse meditado, a condição tradicional haveria detido talvez à beira do amor, limitando-o ao sangue higiênico e vital, porém Lady Vanda não seria para ele uma mera vítima, destinada a uma série de coleções, a beleza irrompia de sua figura ausente lutando, exatamente no meio do espaço que separava ambos os corpos, com a fome.

 

 Sem tempo para perplexidades, ingressou Duggu Van com voracidade estrepitosa no amor, o atroz despertar de Lady Vanda atrasando em um segundo as suas possibilidades de defesa e o falso sonho do desmaio houve de entregá-la, branca luz na noite, ao amante.

 

 Fato é que, de madrugada e antes de ir embora, o vampiro não pode com sua vocação e fez uma pequena sangria no ombro da desvanecida castelhana. Mais tarde, ao pensar naquilo, Duggu Van sustentou para si que as sangrias resultavam muito recomendáveis para os desmaiados. Como em todos os seres, seu pensamento era menos nobre que o simples ato.

 

Leia este tema completo a partir de 13/8/2012

 

 

 

 



12/08/2012
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