Raizonline - Jornal - Radio - Portal

O May be man - Crónica de Mia Couto publicada no jornal «O Pais» - Moçambique

 

O May be man - Crónica de Mia Couto publicada no jornal «O Pais» - Moçambique 
 

Existe o «Yes man». Todos sabem quem é e o mal que causa. Mas existe o May be man. E poucos sabem quem é. Menos ainda sabem o impacto desta espécie na vida nacional. Apresento aqui essa criatura que todos, no final, reconhecerão como familiar.

 

O May be man vive do «talvez». Em português, dever-se-ia chamar de «talvezeiro». Devia tomar decisões. Não toma. Simplesmente, toma indecisões. A decisão é um risco. E obriga a agir. Um «talvez» não tem implicação nenhuma, é um híbrido entre o nada e o vazio.

 

A diferença entre o Yes man e o May be man não está apenas no «yes». O «may be» é, ao mesmo tempo, um «may be not». Enquanto o Yes man aposta na bajulação de um chefe, o May be man não aposta em nada nem em ninguém. Enquanto o primeiro suja a língua numa bota, o outro engraxa tudo que seja bota superior.

 

Sem chegar a ser chave para nada, o May be man ocupa lugares chave no Estado. Foi-lhe dito para ser do partido. Ele aceitou por conveniência. Mas o May be man não é exactamente do partido no Poder. O seu partido é o Poder. Assim, ele veste e despe cores políticas conforme as marés. Porque o que ele é não vem da alma. Vem da aparência. A mesma mão que hoje levanta uma bandeira, levantará outra amanhã. E venderá as duas bandeiras, depois de amanhã. Afinal, a sua ideologia tem um só nome: o negócio. Como não tem muito para negociar, como já se vendeu terra e ar, ele vende-se a si mesmo. E vende-se em parcelas. Cada parcela chama-se «comissão». Há quem lhe chame de «luvas». Os mais pequenos chamam-lhe de «gasosa». Vivemos uma nação muito gaseificada.

 

Governar não é, como muitos pensam, tomar conta dos interesses de uma nação. Governar é, para o May be Man, uma oportunidade de negócios. De «business», como convém hoje, dizer. Curiosamente, o «talvezeiro» é um veemente crítico da corrupção. Mas apenas, quando beneficia outros. A que lhe cai no colo é legítima, patriótica e enquadra-se no combate contra a pobreza.

 

Leia este tema completo a partir de 10/9/2012

 

 

 

 



08/09/2012
0 Poster un commentaire

Inscrivez-vous au blog

Soyez prévenu par email des prochaines mises à jour

Rejoignez les 17 autres membres