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O morto morava ao lado - Conto de Daniel Teixeira

 

O morto morava ao lado - Conto de Daniel Teixeira
 

A senhora metia dó, mesmo, naquele sentido em que se tornava incompreensível a insistência da sua preocupação. Sempre pensei que houvesse a possibilidade de haverem pessoas que pensassem assim mas era apenas teoria, conversas de bar, coisas que vinham de longe e que logo partiam para longe dos meus pensamentos passados minutos ou segundos.
 
Mas neste caso não, a conversa quase impossível, a conversa de bar estava ali mesmo à minha frente dita por uma senhora com um ar infelicíssimo mas estranhamente paradoxal nos seus desejos e aparentemente muito mais paradoxal na priorização dos seus sentimentos.
 
O marido tinha falecido, eu tinha acabado de tratar do caso, saber se tinha sido acidente, crime, suicídio e acho que não há mais. Mas podia ser mais uma aquelas coisas que por vezes os Delegados de Saúde chutam para a polícia porque não querem ficar com a responsabilidade da decisão.

 

Mas neste caso até tinha razão o Dr. Lemos porque a coisa era mesmo complexa. Quando me ligaram a contar o caso até eu fiquei confuso: um homem morto, caído de uma altura razoável e encontrado às portas de um prédio de um só piso. Era pelo menos estranho, achei eu.

 

Mas o Dr. Lemos foi-me logo acrescentando que a coisa parecia mesmo ter sido acidente, que não havia outros traços de violência senão aqueles que se conjugavam com o embate no solo: «Mas mesmo assim é esquisito - acrescentou - daquela altura nem uma perna partia se calhar.»
 
E lá fomos nós, eu e o Esteves, de sirene a tocar como ele gosta tanto e a abrir caminho como se fossemos salvar o mundo. Mas o homem estava morto havia horas e não havia ali qualquer parte do mundo a salvar já : «Morreu há mais de seis horas» disse o Dr. Lemos a olho. Tinha sido encontrado às oito horas.

 

Conhecendo-o como o conhecia para ele mais de seis horas podia ir até às sete, no máximo: «Quero levá-lo mas achei melhor vocês darem uma vista de olhos antes in loco. As lesões que ele apresenta, numa primeira opinião - era sempre assim, um pouco ou mesmo muito formal o Dr. Lemos - ele deve ter tido um tombo de mais de vinte metros e caiu batendo com os pés no solo. Ora isto é uma casinha que nem quatro metros tem até ao telhado.»
 

 Leia este tema completo a partir de 17/9/2012

 

 

 

 



13/09/2012
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