Raizonline - Jornal - Radio - Portal

penélope - conto de Letícia Palmeira

 

penélope - conto de Letícia Palmeira
 

Há muito tempo tento lhe escrever. Aqui, sentado à janela, busco acumular palavras rabiscadas em papel e escrever-lhe uma carta. é difícil colocar meus pensamentos e vontades da forma que os desejo lhe dizer.

Tudo me vem embaralhado como se minha vida acontecesse toda de uma só vez como um rio que carrega o mundo na cheia. Sei que irá me ler e pensar que continuo inexato e nada prático com as coisas. Talvez eu não tenha mudado mesmo. Mas há novidades, Penélope.

Não moro mais no velho apartamento. Agora estou duas ruas acima do antigo prédio azul cobalto. Moro em um prédio mais moderno. Embora sejam apenas quatro cômodos, há espaço. Um banheiro antigo cheio de azulejos que não são mais fabricados. Você adoraria ver.

Há também a cozinha que se une à sala e o quarto onde durmo religiosamente solitário. Decorei o lugar da forma como você decoraria se estivesse aqui. Finalmente arranjei uma mesa para minha máquina de escrever e uma estante para os livros. Está tudo organizado.

Lembro-me de quando reclamava de minhas bagunças. Sim, eu realmente era muito desorganizado. Agora não sou mais. Há gavetas nas quais organizo papeladas, cartas, documentos, contas pagas. Há também um armário para guardar minhas roupas. Embutido. Veio junto com o apartamento.

Não é muito grande, mas ainda há quatro gavetas e prateleiras vazias. Você sabe que não me preocupo muito com estas coisas pequenas de roupas e bobagens. Tenho apenas algumas camisas, um terno e três pares de sapatos que me servem muito bem. Nada tenho a reclamar de minha vida.

Trabalho em um escritório de advocacia. Um amigo me ajudou a conseguir este emprego. Redijo documentos e até recebo bem por isto. Posso, com o dinheiro, passear por lugares que antes eu não ousaria. Lembra-se de quando fomos àquele restaurante da Avenida Sul?

Você me olhava espantada ao perceber que do cardápio poderíamos apenas escolher entre um cesto de torradas e dois cafés. Passamos fome, Penélope. Eu sei o quanto você sofreu tendo vindo para cá viver com um escritor que acreditava que iria ganhar com a publicação de livros. Isto nunca aconteceu.

 

Leia este tema completo a partir de 30/7/2012

 

 

 

 

 

 



28/07/2012
0 Poster un commentaire

Inscrivez-vous au blog

Soyez prévenu par email des prochaines mises à jour

Rejoignez les 17 autres membres