Poesia de Abílio Pacheco - Retrato II; Memórias de Março; Revisita à Casa Bipaterna
Poesia de Abílio Pacheco - Retrato II; Memórias de Março; Revisita à Casa Bipaterna
Retrato II
A Cecília Meireles
Eu também não tinha este rosto
assim tenso, assim denso, assim calvo,
nem olheiras e rugas
nem cabelos alvos.
Eu não tinha estes olhos de agora
tão rubros, tão turvos, tão vagos,
Memórias de Março
A Paulo Cardoso
Quando amanheço... leito manso e lento
Nesta manhã sob este sol silente
A cidade desperta calmamente
Ao meu olhar atónito e em tormento.
Uma canoa tangida pelo vento
Com as lembranças da última enchente
Em mim desliza e a cidade sente,
À margem, nos degraus, um leve alento.
Mas a tristeza morre neste instante
Revisita à Casa Bipaterna
Aos meus pais-avós Ezequiel e D. Nenê
A mesma rua ainda observa imóvel porta,
janela e paredes da casa,
onde moram os nossos velhos, pai e mãe,
onde as aranhas pacientes esperam, à teia urdida intacta,
pelos insetos que tardam a vir,
onde pandora parece nunca ter aberto sua caixinha,
onde, porém, o relógio de hora em hora
nos lembra que tempo passa,
onde nós moramos sempre meninos
a brincar de enterrar tesouro,
fazer mapas, armar arapucas e pegar pombos,
Leia este tema completo a partir de 15/10/2012
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