Poesia de Nelson Alfama - Eu sou
Poesia de Nelson Alfama - Eu sou
Eu sou
Eu sou mais um daqueles que ficaram assim
Eu sou aquele sem pedido.
Nasci da mulher que roeu pedras, lavou roupas.
Nasci da negra sem marido,
Aquela que o sol esfaqueou durante anos em busca de pão.
Sou aquele que Deus fez morrer a palavra,
Fez perder o orgulho, a força da mulher que me fez nascer.
Quantas noites socorridas de amém
Quantos passos prolongados no vai - vém?
Coitada!
A mulher que fez nascer seis filhos
Entre pauladas, noitadas e dias de tristeza,
Sim coitada!
Sem forças, sem brilho
Com garra de fazer sorrir os seis
Nem sequer levou amor de um.
Coitada, simplesmente triste
Não pelo amor, mas sim pela dor da vida que um dia perdera numa cama de hospital.
Morreu! Morreu a negra que…
Entre amigas, bebidas, festas…
Entre panelas, fumo, cinzas deixara «sabura di feru ku gaita» que a fez padecer.
Morreu!
Morreu a mulher sem filhos, sem casa, sem brilho e sem força.
Morreu a mulher daqueles seis homens que nunca os vira mais tarde.
Morreu sim, morreu aquela que não teve nada, mas morreu.
Inscrivez-vous au blog
Soyez prévenu par email des prochaines mises à jour
Rejoignez les 17 autres membres