Ribeiro Telles - «O grande problema do país é a morte das aldeias»
Ribeiro Telles - «O grande problema do país é a morte das aldeias»
Fonte: Café Portugal
Numa conversa que decorreu nos jardins da Fundação Calouste Gulbenkian, o arquitecto paisagista falou sobre o país, os problemas de planeamento das grandes urbes, a desertificação das aldeias. Para o antigo ministro da Qualidade de Vida, os governantes conhecem mal o país, o território e, em especial, o mundo rural. «é preciso que os responsáveis pensem mais no país, menos nas finanças e reflictam na economia do planeamento para o desenvolvimento das gentes». De acordo com Gonçalo
Ribeiro Telles há que recuperar a «autenticidade das coisas».
Ana Clara | quinta-feira, 23 de Fevereiro de 2012
Num momento em que Portugal vive uma crise económica e social, o arquitecto Gonçalo Ribeiro Telles, que completa 90 anos em Maio deste ano, começa por dizer que o principal problema do país «é a falta de informação e a cultura das pessoas, transversal na sociedade portuguesa».
«Desde as camadas superiores, mais intelectualizadas até às mais profundas, de ligação à terra e aos lugares, essa falta de cultura continua à vista», argumenta, recordando que Portugal «vive uma crise de valores».
Refere que o fosso entre o Litoral e o Interior continua a aumentar. «A quem se deve o desaparecimento e a degradação das aldeias?», questiona, sublinhando, em seguida, que tal se deve «a toda uma política de organização do desenvolvimento planeada para a destruição do país e à preocupação em considerar a ruralidade como qualquer coisa do passado sem futuro».
«Criámos uma ruína. é preciso que os responsáveis pensem mais no país e menos nas finanças. Que reflictam mais na economia do planeamento para desenvolvimento das gentes, das potencialidades e da nossa posição quanto ao mundo», apela Gonçalo Ribeiro Telles.
E considera que «se estão a construir cidades só por construir e a criar não o vazio do espaço, mas o vazio do espaço construído». Sobre o interior, salienta que as aldeias «não podem despovoar-se como está a acontecer» e frisa que «dentro de pouco tempo, isto é um país de velhos, de asilos urbanos». Por isso defende que a recuperação das aldeias «tem de passar pelo restabelecimento da agricultura local».
E não tem dúvidas: «hoje, o grande problema do país é a morte das aldeias, que é também um problema de cidades».
E explica porquê: «o aglomerado urbano, que vive do abrigo, do encontro das pessoas, do tecto, do ambiente é a cidade. Mas isso também existe e tem de existir na aldeia. A dimensão é que é diferente. O que está aqui em causa não é a cidade, que dentro de pouco tempo terá 80% da população a viver nela. As aldeias não podem despovoar-se como está a acontecer».
Leia este tema completo a partir de 19/3/2012
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