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Texto sobre Florbela Espanca - Parte XII - MARIANA ALCOFORADO E FLORBELA ESPANCA - Por Daniel Teixeira

 

Texto sobre Florbela Espanca - Parte XII - MARIANA ALCOFORADO E FLORBELA ESPANCA - Por Daniel Teixeira

 

MARIANA ALCOFORADO E FLORBELA ESPANCA

(Continuação do escrito no número anterior)
 
A epistolografia diz respeito às cartas, tal como o seu próprio nome indica, e normalmente trata de epístolas literárias em prosa, que são a voz do seu autor, ditas de uma forma geral na primeira pessoa mas que podem abarcar todo o seu ambiente envolvente. A epístola em verso, sendo pouco utilizada, encontra o seu correspondente no verso / poema dedicado.

 

O sujeito do discurso – neste caso o epistólogo – procura transmitir a outro o seu vivido ou o seu imaginado. Para o efeito conta desde logo com dois elementos enquadradores: tem de utilizar linguagem descritiva e concisa (não existe possibilidade imediata de desfazer dúvidas semânticas que possam surgir no leitor tal como aconteceria se a conversação fosse directa) ou não o fazendo deve utilizar uma terminologia que mesmo não sendo clara para outrem o seja para o destinatário o que vem dar ao mesmo.

 

Nestes termos a epístola acaba por ser obrigada a uma restrição maior na terminologia utilizada, a certos cuidados na utilização de metáforas e outras na organização estilística, o que não se torna tão necessário caso o texto escrito não tenha destinatário definido, ou seja, caso se trate de um texto para o grande público anónimo. E é bem provável que se encontre alguma maior elaboração estilística que favoreça o estatuto quer do escrevente quer do leitor, mas mesmo esta deve conter-se nos limites da perceptibilidade, o que circunscreve as possibilidades de espanejamento na dissertação.

 

Se formos verificar esta questão repararemos que o facto de ter a epístola um destinatário bem definido acaba por fazer funcionar, neste aspecto, um factor de responsabilização do autor para com o seu correspondente a que o anonimato do leitor dos outros géneros literários não obriga. O peso psicológico da rejeição do texto ou de partes do texto embora seja também relevante no caso da chamada grande escrita para público anónimo, não tem no seu ou seus objectos alvo (leitores) variantes culturais ou outras nas quais possa vir a suceder ainda que por mero acaso.

 

Daí as constantes repetições do mesmo tema em várias escalas que se podem encontrar na escrita epistolográfica, os reacertos de sintonia, o desenvolvimento de partes do texto que o seu autor considera serem susceptíveis de dúvida ou de menor compreensão, breve, trata-se não só de cativar o leitor mas também de examinar os resultados que se conseguem mesmo antes de haver um feedback, o que, numa análise mais profunda nos pode levar a saber também qual a forma e a opinião que o escrevente tem do seu leitor em todo o seu processamento quando se trata de escritas / correspondências continuadas que o permitam.

 

Uma das fórmulas básicas encontradas pelo escrevente para sustentar e suster alguma rejeição que o assunto tratado possa vir a ter da parte do leitor é muitas vezes desfeita (ou pelo menos tentada) no elogio do leitor. Este aspecto funciona como que sendo um subgénero estilístico de que o escrevente se serve para fazer uma espécie de «limpeza» psicológica às dúvidas que a eficácia do texto em si mesmo deixou. Na parte elegíaca das cartas pode pois verificar-se também a subjectividade do escrevente na sua relação com o texto escrito e mesmo a sua opinião sobre o leitor: quanto maior (embora este aspecto não deva ser analisado linearmente) é esta parte elegíaca menor é a confiança do escrevente na eficácia do seu texto junto do leitor.

 

Existem milhares, senão milhões de cartas escritas por personalidades mais ou menos famosas, e uma forma delicada de analisar a sua autenticidade será sem dúvida aquela de analisar a igualdade de formação cultural entre os correspondentes para além da igualdade de relação factual quanto aos factos descritos nas cartas.

 

Mas mesmo nestas circunstâncias o problema pode colocar-se no que diz respeito à veracidade da troca de correspondência ou de ideias. Luís António Verney, por exemplo, escreveu quase toda a sua obra sob a forma de cartas, alegadamente dirigidas ao Marquês de Pombal e embora a reforma dos estudos empreendida pelo Marquês tenha muito daquilo que foi escrito por Verney nada nos garante (pelo menos com elementos conhecidos) que essas mesmas cartas tenham sido sequer lidas pelo Marquês ou a ele tenham alguma vez sido de facto dirigidas.

 

Verney não era seguramente o único a pensar daquela forma, ou de uma forma aproximada, e não tinha seguramente o exclusivo universal daquelas ideias, que provavelmente até recolheu de um estudo alicerçado noutros autores.

No entanto, nas Cartas de Soror Mariana Alcoforado o problema coloca-se de forma diferente desta possibilidade de não correspondência real. Foram colocados em «cena» dois «actores» que alegadamente viveram uma determinada situação e o facto de… os factos se encaixarem ou puderem ser encaixados (Chamilly e Mariana encontram-se em Beja cidade na mesma altura, por exemplo) acaba por tornar crível a história, pelo menos neste aspecto.

 

Leia este tema completo a partir de 27/06/2011



22/06/2011
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