Um conto de Ilona Bastos - O duche
Um conto de Ilona Bastos - O duche
Basta um toque na torneira da água quente para que o duche se transforme numa fonte de delícias! O jorro de água morna, à temperatura ideal, açoita-me os ombros com volúpia, desce-me pelas costas e desfaz generosamente aquela dor, acima dos rins, que me dificulta o
voltear entre os lençóis, pela manhã, ao acordar.
A água é pródiga em carícias e devolve-me a juventude: ora me encharca o cabelo, que se alisa languidamente; ora me desliza sobre a pele, decidida, independente, espraiando-se afoitamente pelo peito, pelos braços, pela barriga; ora se rebola, pelas pernas, até aos pés, que chapinham, ondeando a tumultuosa maré que percorre a banheira; ora se liberta em gotículas mil, que de mim projecto, esfuziante.
Sou água, sou cascata, sou rio, sou mar, sou oceano, sou vida!
E, a partir do momento em que renasço, logo o espírito se põe a voar, em pensamentos iluminados.
Como a água, que não pára de cair, dúvidas me atingem, verbalizando-se em frases que murmuro, enleada: «Quando voltará o tempo a estender-se a nossos pés, como uma planície verdejante?»; outras vezes, é a resposta que me surge, tal como a flor que se abre, expandindo suas pétalas preciosas ante meu espírito deslumbrado: «De repente dou-me conta de que, neste pensar não ser, sou tão intrinsecamente eu!»; outras vezes, ainda, é uma voz, no interior de mim, que sussurra segredos: «Escuta-me! Só sou, verdadeiramente, no Outono…»
Por mil rios e ribeiros desce a torrente que me lava, me limpa, me alimenta de novos pensamentos.
Leia este tema completo a partir de 9/4/2012
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