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Um conto de José Maria Oliveira - O JARDINEIRO DAS BONINAS - «O APRENDIZ DE ALZHEIMER» - PARTE II

 

Um conto de José Maria Oliveira - O JARDINEIRO DAS BONINAS - «O APRENDIZ DE ALZHEIMER» - PARTE II

 

Recolhido Por João Brito Sousa

 

Com o tempo apetecia-lhe cada vez falar menos, e ia também desligando-se de pequenos hábitos desnecessários que o caracterizaram, a vida inteira... os filhos viam-no assim deste modo a «alhear-se» e começavam a andar preocupados, acabaram por levá-lo a meia dúzia de médicos e o último rematou com grande sapiência entre dentes, mas que ele conseguiu ouvir – Alzheimer! Não há dúvidas! E quem seria eu para desconfiar daquela eminência parda, a que chamavam doutor ?

 

No fundo deu-me uma imensa vontade de rir, aquelas preocupações, as outras, mais veladas, para saber a quem «o velho» iria deixar as massas , as casas, as meia dúzia de acções e uns quantos cacos de família que se recusava a tirar da velha vivenda onde de vez em quando ia, pois o neto, que já tinha carta, levava-o lá à surdina, sem que ninguém soubesse, a não ser os outros netos, que sempre o adoraram e trataram por avô, num tom, que ele, todo dado às músicas, não deixava de estremecer como se fosse a sua ausente mãe quando o embalava em criança... sim porque também ela depois endureceu e não ara mais do que uma das muitas mães, sem tempo para nada, de tal modo o espelho, as amigas, e o conferir as cadernetas com o meu pai lhe assoberbavam o tempo! ...

 

Mas aquela «do Alzheimer» era demais... e que diabo: é que vinha mesmo a calhar, talvez agora com o estatuto de «parvoíce galopante» se pudesse começar a «vingar» em pequenas doses, (porque no fundo nunca fora rancoroso), das pulhices que as noras e os filhos de vez em quando lhe fossem fazendo e que ele não gostava, que diabo! Porque não merecia!!!

 

Uma vez foi dar um passeio pelos arredores, entreteve-se a falar com um velho colega de escola que caíra na mendicidade e veio às quinhentas, foi o fim do mundo, tiveram-no guardado cinco dias e cinco noites.. depois começou a fazer-se desentendido às conversas, sobretudo quando não lhe interessavam, ou então quando lhe perguntavam onde tinha o dinheiro, quanto tinha, quando fazia testamento... e que «merda» há mais de um ano que não sabia o que era um leite creme que ele tanto adorava, não fossem os doces que lhe traziam os netos às escondidas e estava feito!

 

Para eles nunca faltara a massa, aliás já tinha feito o testamento em nome dos três netos, às escondidas, e deixava uma velha casa a um amigo de infância, um pouco mais novo do que ele e que nunca dera meia para a caixa, sempre com a mania que era poeta e só tinha uma reforma de 25 contos, de quatro anos passados na guerra colonial donde veio meio passado!

 

Leia este tema completo a partir de 21/5/2012

 



20/05/2012
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