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Um homem insignificante - Conto de Daniel Teixeira 

Era um homem insignificante, acabaram todos por dizer à medida que os questionava sobre o que tinham visto. Baixinho, de óculos redondinhos tipo escriba de repartição, cabelo quase em farripas irregulares que se enrolavam e desenrolavam à volta das orelhas, entrou no hall do Hotel quase sem se dar por isso.

O porteiro ainda esboçou um gesto para lhe perguntar o que perguntava sempre a quem chegava enquanto lhes escancarava a porta, mas achou que não valia a pena, ou que não ia obter qualquer resposta ou que nem valeria o esforço de se incomodar a abrir a boca.

Normalmente saudava quem vinha levando a mão ao boné apenas em gesto, quase tipo continência militar, perguntava se precisavam de alguma ajuda, se precisavam de alguma indicação, se precisavam de outra coisa qualquer que fosse dar ao mesmo...enfim, ele precisava variar o rame rame verbal e para o homem insignificante o que saiu ou não saiu foi um nada. Não lhe disse simplesmente nada: achou-o insignificante e não lhe perguntou mesmo nada. Apenas lhe abriu as portas...

Continuou a ser um homem insignificante e nem sequer alguém reparou quando ele puxou a arma da pasta, daquelas pretas de pega com o fundo a fazer tipo fole, ninguém reparou quando ele se demorou fracções de segundo a apontar para o balcão corrido, cheio de gente bebericando bicas, galões, comendo pãezinhos e bolos, ninguém viu quando ele começou a disparar: só ouviram os estampidos, foram seis tiros, cinco, sete. Aqui estava quase tudo em desacordo: de qualquer forma não era importante, não era significante, agora, saber quantos tiros foram disparados; três mortos e dois feridos graves, era o saldo. Entre os mortos estava o homem insignificante.

Leia este tema completo a partir de 10/9/2012