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Um texto de Cremilde Vieira da Cruz - Prosa poética

 

Um texto de Cremilde Vieira da Cruz - Prosa poética
 

Interrompido o nosso silêncio, meu e das palavras, estas esqueceram o pormenor da frase correta e soltaram-se em catadupa, sem qualquer sentido.
 
Era a hora em que os vizinhos fecham as persianas e recolhem ao conforto do leito. Ah, certos vizinhos também têm por hábito, estender roupa àquela hora, naqueles estendais de roldana, antiquérrimos, que fazem um barulho ensurdecedor.
 
Cansadas, eu e as palavras, incomodadas com o barulho, apagámos as luzes, abeirámo-nos da janela, olhámos o céu, o brilho das estrelas e regressámos ao nosso silêncio. Descontraímos, recolhemo-nos dada a hora tardia, e adormecemos num sono profundo.
 
Era já manhã, quando acordámos. Surpreendeu-nos um ruído incomodativo. Fomos ver, eram uns vizinhos a abrir persianas, outros a apanhar a roupa que, entretanto, secara.
 
Nosso propósito adiado, meu e das palavras, era escrevermos um texto acerca do silêncio que nos tínhamos imposto. Porém, com a perturbação originada pelos afazeres da vizinhança, não escrevemos o texto, porque tanta inquietação fez-nos perder as vírgulas, os dois pontos, os pontos finais e todos os outros pontos que toda a gente conhece.
 
Ora, a nosso ver, meu e das palavras, a pontuação é fundamental para qualquer texto, a menos que queiramos imitar o Nobel José Saramago. Contudo, não teremos essa veleidade.
 
Pensando bem, tem certa lógica a falta de pontuação, pois obriga a uma leitura muito mais atenta, ou correr-se-á o risco de chegar ao fim do texto com um vazio, por se reconhecer que a leitura foi infrutífera.

Leia este tema completo a partir de 6 de Maio carregando aqui.

 

 

 



05/05/2013
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