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Uma Madrugada Diferente - Conto de Ana Dias - Menção Honrosa nos Jogos Florais de «Os Bonjoanenses»

Uma Madrugada Diferente - Conto de Ana Dias - Menção Honrosa nos Jogos Florais de «Os Bonjoanenses»

 
Acordei, como de costume, a desoras.
totalmente para a vertente errada.
surgem.

 

O ladrar dos cães poderá ter sido a causa: penetrando no meu subconsciente, foi-me despertando. Mesmo sem que esse fosse o óbice de continuar a dormir, habitualmente acordo muito cedo — resultado de muitas noites perdidas trabalhando para amenizar a crueza, lapidar a brutalidade das experiências interiorizadas dos jovens que me chegam ás mãos, tornear as dificuldades que o dia a dia me oferece, construir estratégias de regeneração, minimizar diferendos, eliminar o joio, abrir caminhos.

 

Mas hoje nem disso se trata. Levantei-me porque a vida não me deixa sossegar.

 Há muito deixei de ter sonos reparadores, noites descansadas — a vida descambou.

 Anos longos de trabalho árduo, de entrega completa, para nada — a miséria, a impossibilidade de, sequer, ser capaz de sobreviver, de respirar convenientemente, de me sentir minimamente livre de empecilhos e problemas, destroçaram tudo o que seria lógico ter nesta minha fase da vida.

 

Não tenho nada. Cada dia é sempre mais curto, negro, cheio de preocupações. Por mais que evite contrariedades, por mais que tente cumprir com as minhas obrigações e subsequentes responsabilidades, para que não existam obstáculos, há sempre quem invente, orquestre acontecimentos que (sabem) irão fazer soçobrar as minhas já poucas resistências; há sempre quem desafie a minha capacidade de tentar, sempre, evitar problemas.

 

As dificuldades, as improbabilidades acontecem, sem se saber de onde surgem.

 Ser-se honesto, fidedigno, cumpridor já são características «démodées». Sinto-me um dinossauro. Sou uma defensora acérrima dos valores da família, da sociedade, da vida. Sinto-me como se só eu já fosse o último abencerragem.

O diapasão por que se pautava tudo o que de bom a vida nos oferecia, e nos fazia ter certezas, hoje, perdeu o tom; as assonâncias são rudes, gritantes, destemperadas.

 

O pior é que quem não vai por aí, não pode ser categorizado como um ser humano.

 à minha volta, a cada passo, deparo-me com incongruências, com actos desqualificados, com a aceitação de restos, para mim, absolutamente inaceitáveis, desconformes, como se as valências tivessem sido voltadas do avesso — o que era certo, seguro, credível, perdeu a actualidade, deixou de ter razão de ser e de existir.

 

Leia este tema completo a partir de 18/6/2012


 



17/06/2012
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