Raizonline - Jornal - Radio - Portal

Vidas retalhadas - Texto de Lina Vedes

 

Vidas retalhadas - Texto de Lina Vedes
 

Tinha uma colega, Alexandra, que morava na Rua da Misericórdia, que andava comigo na explicação da D. Gracinda, empregada nos Correios.

A porta do quintal desta amiga servia várias casas, era o nº13 e ficava na Rua Manuel Belmarço. Todas as casas que faziam canto com a R. da Misericórdia tinham quintais ao fundo que se conjugavam e todos os moradores os partilhavam como um bem comum.
 
A Alexandra tinha uma particularidade que me espantava. Assumia diferentes personalidades sendo uma colega como as outras, conversando normalmente, ou parecendo viver longe da normalidade.
 
Quando eu ia para a explicação passava pelo quintal dela, chamava-a e se não respondesse ia à porta da rua. Normalmente estava em casa ou no quintal, tinha uma vida solitária, nunca senti a presença de um pai, e a mãe levava os dias na igreja, rezando, esquecida da filha.
 
Abria-me a porta, punha o indicador direito junto dos lábios, a pedir silêncio, com a mão esquerda puxava-me para dentro de casa e com voz surda, confidenciava-me:
 - Anda comigo, vamos pelo quintal, devagarinho, eles estão à nossa espera. Vem atrás de mim e faz o que eu faço. Não tenhas medo, são demónios bons e amigos.
 
Eu entrava no jogo, era diferente e divertido.
 

Ela avançava e eu seguia-a, mais parecíamos um gato perseguindo a presa, olhando à esquerda e à direita, agachadas ou levantadas até atingirmos a porta para sair. Pegava nos livros que tinha escondido num muro e íamos, tranquilamente, para a explicação que ficava numa casa encostada à parede da muralha, no Largo de S. Francisco.

 

Leia este tema completo a partir de 18 de Fevereiro carregando aqui.

 

 

 



17/02/2013
0 Poster un commentaire

Inscrivez-vous au blog

Soyez prévenu par email des prochaines mises à jour

Rejoignez les 17 autres membres